De todos os pesares, o mais relevante foi aquela despedida, tanto pra mim quanto pra você. É incrível como as coisas se dissipam tão rapidamente, todas as minhas antigas certezas se foram e deram lugar a inúmeras dúvidas. Nosso lugar antes tão comum não é mais o mesmo, não me reconheço ali, embora sinta imensa saudade do aconchego que me propiciava a um tempo atrás. As vezes sinto as promessas ecoarem em meus ouvidos e não vejo como, encaixá-las em minha realidade.

As coisas mudaram e muito, muito mais do que eu previa, mais até do que eu temia. Os traços que mais admirava em mim mesma, se perderam de uma forma assustadora, ao ponto de não mais reconhecer a pessoa do espelho. Outros pensamentos, outras razões, outros motivos, outros planos, outro universo nada compensador. Contudo sei que mudei e que você também mudou, mas não me aborreço, sei que da mesma forma que é difícil pra mim, também deve ser pra você. E não há motivos para desculpas, porque simplesmente não há culpados. Assumimos o risco quando optamos pela vida, estamos sujeitos às mudanças e não há a quem revogar isso.

Embora tudo o que mudou em mim, só sobrou a certeza de que os sentimentos são imutáveis, nem mesmo o tempo, que está no controle de tudo e de todos é capaz de mudá-los. Meus sentimentos permaneceram intactos, resistiram bravamente, aos eventuais enganos e desenganos, continuam à espera de que as generosas mudanças da vida, nos aproxime novamente, preservam-se para o nosso reencontro, digno de lágrimas, abraços e toda a forma de afeto, de tanto conforto , compensador.

"Eu quis querer o que o vento não leva, prá que o vento só levasse o que eu não quero eu quis amar o que o tempo não muda, prá que quem eu amo não mudasse nunca. Eu quis prever o futuro, consertar o passado, calculando os riscos, bem devagar, ponderado, perfeitamente equilibrado. Até que num dia qualquer eu vi que alguma coisa mudara, trocaram os nomes das ruas e as pessoas tinham outras caras, no céu havia nove luas e nunca mais encontrei minha casa."  Hebert Viana